Janela Indiscreta

Blogue recomendado por Pedro Rolo Duarte no seu programa Janela Indiscreta, da Antena 1, a 28-07-2010.

22 de setembro de 2010

21º Episódio

Ela tornou a abanar a cabeça. Depois, fixou a sua atenção na holografia que pairava no espaço do laboratório e disse:
“Nem sequer podemos assegurar que a criatura terá um cérebro normal.”
“De facto. A única coisa certa é que terá exactamente o aspecto do Hitler, à altura da morte deste.”
Observámos a imagem durante mais uns momentos, até eu desligar o computador. Era tarde e estávamos com sono. Mas nenhum de nós se foi deitar, ali ficámos vários minutos, sentados lado a lado, em silêncio.
“O senhor”, começou ela de repente, “exala sempre esse aroma a bergamota...”
Assim que recuperei da minha estupefacção, retorqui:
“É do meu óleo de duche. Peço desculpa, se a incomoda...”
“Oh não! Eu adoro o perfume da bergamota.”
“É mesmo?”
Olhámo-nos e eu senti dificuldade em me controlar. O que, aliás, nada tinha a ver com os lindos olhos castanhos da Dra. Luninski, com a sua boca sensual e os cabelos sedosos. Não senhor! Também nada tinha a ver com o facto de que ela, usando aquela roupa prática, ficava muito mais atraente do que com os trapos da discoteca. Os jeans assentavam-lhe como uma luva, realçando as pernas elegantes e o traseiro bem feito. Por baixo das t-shirts adivinhavam-se-lhe os seios apetecíveis e, em certos movimentos, descobria-se-lhe a barriga bronzeada, um umbigo irresistível...
Não, não tinha a ver com nada disso! Ela nem sequer era o meu tipo, eu sempre preferi as louras. Além disso, alimentava a esperança de que a Amanda ainda voltasse para mim. Era simplesmente a nossa situação de prisioneiros que me punha doido: tanto eu, como ela, ansiávamos por um pouco de divertimento...
Desviei o meu olhar do dela e passei a mão pelos meus cabelos em desordem. Talvez devêssemos aproveitar aquela oportunidade. O que tínhamos a perder? Mantinha-se o perigo de não sairmos vivos daquele bunker. Os fanáticos haveriam de tomar providências para que de nós não sobrasse nem um... Irra! Porque é que vou sempre parar ao mesmo?
A Dra. Luninski levantou-se, com as palavras:
“Bem, vou-me deitar.”
E desapareceu.
Aquilo desiludiu-me. Mas só num primeiro momento. Era melhor assim. Ela certamente ainda pensava no seu querido Karl, o canalha! E, se lhe apetecesse ter sexo comigo, era só a fim de encontrar algum consolo no meio da loucura em que nos tinham metido. Tal e qual como eu. O que nunca daria certo. Acabaríamos com a descontracção e a espontaneidade que caracterizavam a nossa relação de trabalho. Éramos uma equipa e pêras. Mas, assim que desaparecesse essa harmonia, acabaríamos na câmara de gás, depois no crematório, e de nós não sobraria nem um...
Mas que diabo! Agora chega!

7 comentários:

Zé Povinho disse...

Ai tanta frustração. Por vezes seguir o instinto, em situações extremas, é mais saudável...
Abraço do Zé

Kássia disse...

Nestas coisas, o Professor é tímido. Precisa de um empurrãozinho... Que pode surgir num momento inesperado ;)

antonio ganhão disse...

Minha querida, o sexo para os homens dá sempre certo... Bergamota? Vou investigar.

Mar Arável disse...

A coisa

não está fácil

Daniel Santos disse...

não sobraria um carvão.

Pata Negra disse...

Se a morte se fizer anunciar e eu puder, a última coisa que gostaria de fazer era amor! Espero que nessa situação o sono não sirva de desculpa!
Até ao 22! Abbbbbbbb

Rafeiro Perfumado disse...

O professor não é tímido, é arraçado de roto...