Janela Indiscreta

Blogue recomendado por Pedro Rolo Duarte no seu programa Janela Indiscreta, da Antena 1, a 28-07-2010.

22 de agosto de 2010

12º Episódio

Quando, no sábado, me trouxeram o jantar, eu não tinha fome. Havia quase chegado ao ponto de desejar a minha execução. E, já que não tinha mais nada a perder, surgiu-me uma ideia maluca: da próxima vez que o Sr. Kornflock entrasse no laboratório, eu arrancaria o seu amado carvãozinho do vácuo e lançar-lho-ia às ventas!
Estava há horas sentado à mesa do meu jantar frio, completamente apático, quando ouvi passos. Virei-me para o carvãozinho e pensei: chegou a tua hora, desgraçado!
Mas não tive ocasião de o arrancar do invólucro. Quando atiraram com a porta, paralisei perante o espectáculo que se desenrolou diante dos meus olhos.
Os meus três raptores irromperam por ali dentro esbaforidos, fazendo o maior esforço para arrastar consigo uma mulher, cuja cabeça estava coberta por uma serapilheira... Que certamente cheirava a salsichas tipo Frankfurt!
E que mulher! O que primeiro me saltou à vista foram as suas pernas altas e elegantes, uns calções prateados justos e curtíssimos e um tipo de botas pretas que lhe chegavam acima dos joelhos, de tacões muito altos e cujos canos eram maleáveis como meias. Uns collants pretos, enfeitados com estrelinhas prateadas, torneavam-lhe as coxas bem-feitas.
Desviei os olhos para o tronco, modelado por um top preto, cujo decote mal lhe escondia os seios. Os braços bronzeados estavam enfeitados com pulseiras e braceletes coloridos e as unhas, pintadas de um vermelho vivo, tinham pelo menos três centímetros de comprimento.
Com mil milhões de tubos de ensaio! Mas porque me traziam eles aquela figura de vídeo de música rap, daquelas que só lá estão a mostrar as mamas e a abanar o traseiro? De repente, surgiu-me uma explicação: será que o comandante achava que tal criatura me conseguiria levantar a... o moral? Muitos homens pensam que o sexo pode ser a solução para todos os problemas.
Bem, uma boazona daquelas bem me apanharia na cama. E o sexo faz bem, sem sombra de dúvidas, ao corpo e ao espírito. Mas não se tratava do meu tipo de mulher. Depois de o termos feito duas, talvez três vezes, ficaria cheio dela... e ainda mais deprimido do que no início.
Os raptores viam-se aflitos para arrastar aquela extravagância para dentro do laboratório. Ela resistia por todos os meios, dando guinchos histéricos. Como é usual no tipo de fêmea, cuja actividade principal é arranjar-se para festas, ou limitar-se a ser bibelô de homens de negócios ou gangsters (tornei a perguntar-me se fazia parte de um filme). Felizmente, a serapilheira abafava-lhe os gritos. Os três tentavam sentá-la numa cadeira, quando ela se apoderou das orelhas do chinês e as puxou bem puxadas. O homem deu um berro e, ao libertar-se, tropeçou para trás, quase caindo. E eu notei-lhe o arranhão na face esquerda, o resultado do contacto das unhas de verniz vermelho com a sua bochecha.
O Sr. Mao Tsé Tinho perdeu as estribeiras. Rugindo como um puma, sacou da faca que trazia no bolso interior do seu paletó cinzento e precipitou-se por sobre a boazona. Apesar de eu ter reagido prontamente, estava longe demais e nunca chegaria a tempo de evitar a catástrofe. O Sr. Cebolo, felizmente, agarrou no chinês, no preciso momento em que este se preparava para espetar a faca na moça.
“Mas o que é isso, homem?” dizia o português, enquanto o empurrava para um outro canto do laboratório. “Tem calma! Torna lá a guardar o brinquedinho, anda!”
A voz de vodka, que conseguira finalmente sentar a raptada na cadeira, amarrava-lhe as mãos por trás das costas e lançou para o chinês:
“Endoideceste?! Quase que estragavas tudo, depois do trabalhão que tivemos!”
Vendo que a bola chinesa já se acalmara, o Sr. Cebolo deixou-o e aproximou-se de mim, limpando o suor da testa com um lenço. Sussurrou-me ao ouvido:
“Irra! Saiu-nos bem mauzinho, este Mao Tsé Tinho...” Acrescentou, com um sorriso: “E, no entanto, é bem pacóvio! Quem não gostava de ser arranhado por aquele pedaço de mulher, hã, Professor?”
Riu-se das próprias palavras, enquanto me espetava o cotovelo por entre as costelas, de olhar matreiro. Eu perguntei:
“Mas quem é ela? E que faz aqui?”
O Sr. Cebolo apontou-me olhos abismados:
“Ora, quem haveríamos nós de trazer para aqui? A sua assistente, claro!”
“O quê?!”
Só podia ser uma piada!

7 comentários:

antonio ganhão disse...

Um bom momento de acção numa escrita feminina... nenhum homem repararia no calçado tendo um decote mesmo debaixo do nariz. Prioridades minha querida, prioridades. Embora umas boas pernas sempre cativem o sentido estético de qualquer um.

Kássia K. disse...

Foi interessante ler a tua perspectiva, obrigada ;)

José Lopes disse...

Qualo tipo de assistência será pedido à boazuda?...
Cumps

Voltaire disse...

onde e que se arranjam assistentes destas??? ;);)

De episódio para episódio a história está a ficar cada vez mais interessante.

Gostei da descrição da assistente...

Rafeiro Perfumado disse...

Espero que não deixem a assistente sozinha com o professor ainda amarrada, é que dá violação na certa!

Kássia K. disse...

Obrigada pelos vossos comentários e elogios.
Espero que gostem tanto de ler a história, como eu gosto de a escrever!

Um big kiss (também da assistente ;)

Daniel Santos disse...

aguardo com entusiasmo e enorme expectativa o próximo capitulo.