Janela Indiscreta

Blogue recomendado por Pedro Rolo Duarte no seu programa Janela Indiscreta, da Antena 1, a 28-07-2010.

10 de novembro de 2010

35º Episódio

A Olga sorriu triste e acrescentou baixo:
“Depois veio a Dra. Luninski...”
“Para lhe ser franco, eu no início nem gostei dela.”
“Gostou sim, só não o queria admitir. Pois eu, ainda antes de a raptarmos, soube logo que ela era a mulher certa para si.”
“É mesmo? Mas porquê?”
Ela encolheu os ombros:
“Chamemos-lhe intuição feminina. Vi logo que acabariam nos braços um do outro e até tentei convencer os meus colegas a raptar outra pessoa, um dos colaboradores do seu laboratório, por exemplo. A Presidência, porém, rejeitou qualquer proposta nesse sentido. Como a Dra. Luninski se tinha acabado de demitir do seu lugar de prestígio no laboratório do Professor Saturnino, a fim de emigrar, não iria ser tão procurada e o seu rapto não seria tão notado no mundo científico.”
Os nossos raptos tinham sido planeados ao pormenor! Aquilo lembrou-me de que toda esta gente era criminosa e psicologicamente instável. Não havia dúvida de que a Olga, neste dia, estava atractiva, possuía um certo carisma e tinha acabado de me fazer uma espécie de declaração de amor. Porém, ela própria me conduziria ao meu local de execução, se fosse esse o desejo da criatura!
De qualquer maneira, eu tinha vindo ter com ela a fim de lhe dar algum consolo, nesta hora difícil. Por isso a abracei e lhe beijei a face. Ela tornou a sorrir e disse:
“Desejo-lhe sorte, Professor. Sei que será feliz com a Dra. Luninski. E que estará ao lado do nosso Führer, quando este dominar o mundo!”
“Sim... com certeza...”

No dia das execuções, a Chanel e eu abstivemo-nos de deixar o nosso aposento. À noite, sentíamo-nos esgotados e vazios, como se tivéssemos cumprido com as nossas próprias mãos aquele horrível acto. Deitámo-nos, mas ficámos quase uma hora imóveis, sem adormecer. A cabeça dela pousava sobre o meu peito. Comecei a afagar os cabelos de seda e murmurei:
“Acabarei amanhã com este absurdo!”
Ela não reagiu logo, mas eu sentia-lhe a ansiedade. Finalmente, perguntou:
“Qual é a tua ideia?”
“Então eu não examino todas as manhãs o estado de saúde do clone? Amanhã, digo-lhe que ele não está nada bem, que precisa de um medicamento e dou-lhe a injecção que o devolve ao estado de coma artificial!”
Ela levantou a cabeça e pousou os seus olhos nos meus:
“A substância é perigosa. Pode até mandá-lo desta para melhor.”
“E depois?”
“Como reagirão os outros?”
“Digo-lhes que encontrei o clone naquele estado, quando entrei no quarto.”
“Mesmo que eles acreditem em ti, o que sucede depois?”
“Não sei. Só sei que não aguento mais esta situação. E pergunto-me que tipo de disparates a criatura ainda vai inventar. Vivemos à beira do precipício. Mas mesmo que ele poupe a tua vida e a minha até ao fim, eu não aguento mais um dia de execuções como este.”
Ela tornou a pousar a cabeça no meu peito e exalou:
“Nem eu.”

4 comentários:

antonio ganhão disse...

Intuição feminina... conheço uma boa piada sobre este assunto, mas agora não interessa nada.

O clone escapará? Algo me diz que sim.

Zé Povinho disse...

Mandar o ditador desta para melhor é sempre uma boa solução, vejamos pois as consequências.
Abraço do Zé

Daniel Santos disse...

a coisa ficou pesada.

Pata Negra disse...

É caso para dizer:
- Não matem o Hitler!
Isto porque, caso isso aconteça, a história não sobrevirá e, quem sabe, os romances que por aí prometem não nos brindem com o amor.
(esta coisa de contar histórias aos pedaços - falo porque tb me toca - tem os seus problemas mas é a única forma de se escreverem livros na blogosfera. Inventar formas de não se perder o fio à meada, nem perder o leitor, é um grande desafio! Que nos sirva ao menos o prazer de escrever!)
Um abraço do mesmo bunker