Janela Indiscreta

Blogue recomendado por Pedro Rolo Duarte no seu programa Janela Indiscreta, da Antena 1, a 28-07-2010.

17 de novembro de 2010

37º Episódio

Eu tinha um aspecto totalmente diferente! Meu Deus, dava muito nas vistas? Atacado por um pânico repentino, tentei encolher-me na minha cadeira. O meu receio era infundado? O meu comportamento ridículo? Estava completamente fora de mim, incapaz de pensar claro. Além disso, senti-me muito fraco. Tinha a ver com o facto de não ter tomado o pequeno-almoço? Ou estes malucos já me tinham posto doido?
Deu-me uma dor de barriga e, ao massajá-la, senti a seringa no meu bolso. A injecção redentora! Tinha que arranjar oportunidade de a dar à criatura. Porque é que o clone não era atingido por alguma fraqueza? Porque é que não lhe dava um ataque de tosse, ou de espirros, ou de caspa... sei lá, qualquer coisa. Imploro-te meu Deus!
“Estamos agora prontos para...”, lançou o Cebolo e eu assustei-me tanto, que aconteceu exactamente aquilo que eu procurava evitar: estremeci, atraindo todas as atenções! Fixavam-me, aqueles neuróticos, aqueles fanáticos, haveriam de me...
“Mas que diabo se passa hoje consigo?”
O clone olhava-me irritado. Acrescentou irónico:
“E está o senhor preocupado com o meu estado de saúde? Quer-me parecer que você, doutor, é que precisa de ajuda médica!”
Desataram todos às gargalhadas, eu limitei-me a um sorriso amarelo.
Assim que sossegaram, o clone virou-se para o Cebolo:
“O que é que o senhor se preparava para dizer?”
“Ah sim. Bem, meu Führer, estamos finalmente em condições de dominar o mundo, não é verdade?”
Todos os membros da Presidência fixaram olhares ansiosos no seu Führer. Mas este olhava-os siderado e declarou:
“Estamos em condições, não: nós já dominamos o mundo!”
Os nazis olharam-se confusos. Até que o português desatou novamente às gargalhadas. Todos o imitaram, excepto eu... e o clone.
“Mas que piada”, disse o Sr. Cebolo. “Uma boa piada, meu Führer, que só alguém que está prestes a atingir o seu objectivo supremo se pode dar ao luxo de fazer. Acho, contudo, que não nos devíamos precipitar e, sim, começarmos a ocupar-nos das coisas práticas. Não acham, meus senhores?”
Todos acenaram com a cabeça, excepto eu... e o clone.
O português prosseguiu, muito solene:
“Chegou a hora da verdade. Por mais perto que estejamos do nosso objectivo, ainda não o atingimos plenamente.”
“Como não?” perguntou a criatura. “Não mandei eliminar os seres supérfluos, a escumalha da humanidade?”
“Aqui, no nosso bunker, sim. Mas agora é o mundo lá fora que espera por nós!
“O mundo lá fora?” repetiu o clone.
Fixou o português durante vários segundos em silêncio... com o mesmo olhar vazio que ostentava quando acordou pela primeira vez. O que aliás não tinha um aspecto nada saudável. Chegara a oportunidade de lhe dar a injecção? Quando me preparava para falar, porém, falou o clone:
“O senhor pretende por acaso dizer que existe um mundo lá fora?”

6 comentários:

jota disse...

Sempre desconfiei que o Hitler era meio limitado das ideias. O clone como cópia pior que o original não podia ser diferente. Ehehehehe

antonio ganhão disse...

Ora bolas! Existem os mercados? Estão nervosos?

Cristina Torrão disse...

A crise chega a todo o lado ;)

Rafeiro Perfumado disse...

Era levá-lo a passear na Cova da Moura, resolvia-se logo o assunto!

Daniel Santos disse...

boa viragem, gostei.

Pata Negra disse...

Tal qual como nas anedotas, há sempre um português para espetar a sua zé esperteza!
Há um mundo lá fora? Claro que há, o nosso Füher Sócrates, diz-nos que é de lá que vêm os nossos males!
Um abraço do bunker, algures na serra de aire