Suspirando de resignação, segui os meus raptores e o Sr. Obskur, que transportava a sua amada caixa com o carvãozinho. O laboratório parecia ser adequado, até lá havia duas incubadoras de tamanhos diferentes. Perante tão bons instrumentos e computadores, tive que perguntar:
“Mas como podiam os senhores saber exactamente do que é que eu precisava?”
O Sr. Cebolo dirigiu-se-me cheio de bonomia:
“Isso foi cá o nosso Dieguito, o homem é um crânio! Não desfazendo, Professor.”
“O nosso Dieguito?”
“Ele refere-se ao Diego Lacucaracha”, esclareceu a Sra. Tortinova e, dirigindo-se ao Sr. Obskur: “Vai buscá-lo, para que o Professor fique já a saber de tudo!”
O atleta louro, no entanto, mantinha-se paralisado, com a caixa nas mãos. Parecia de novo prestes a romper em pranto. A voz de vodka insistiu:
“Então, não me ouviste?”
“Custa-me tanto separar-me dele!”
“Acaba lá com as lamúrias”, exigiu a russa, “já chorámos que chegue. E, quanto mais depressa o Professor começar com o seu trabalho, melhor.”
“Para ti é mais fácil”, protestou o Sr. Obskur, enquanto punha a caixa em cima de uma mesa. “Tu não viveste todos estes anos a seu lado.” Afastou-se a fungar, procurando um lenço pelos bolsos.
Os meus aposentos pareciam confortáveis e estavam limpos. O Sr. Cebolo foi tratar do meu pequeno-almoço e eu sentei-me finalmente. O meu cansaço e o peso que sentia sobre os ombros deviam ser perceptíveis no meu rosto, pois a Sra. Tortinova sorriu e disse-me:
“Anime-se, caro Professor! Depois de um bom sono, sentir-se-á melhor. No armário do seu quarto encontrará roupa lavada, coisas práticas, bem ao seu gosto. Aconselho-o a tomar um banho e a pentear bem o cabelo. É que o nosso comandante dá muito valor a um aspecto cuidado.”
Enfiei a mão pelos cabelos em desordem. Estavam sem dúvida compridos demais, mas eu esperava que ninguém me obrigasse a cortá-los curtos, à maneira dos nazis.
“Além disso”, prosseguiu a Sra. Tortinova, “oferecemos-lhe a possibilidade com a qual com certeza sonhava. Diga lá: do ponto de vista científico, não é um regalo, este projecto?”
Realmente, havia uma parte em mim que se regozijava. Mas sentia-me cansado demais para me ocupar com os meus sentimentos contraditórios e limitei-me a um sorriso amarelo.
O Sr. Cebolo surgiu, empurrando um carrinho de servir e, ao deparar com o homem que o acompanhava, quase caí da cadeira. Apesar de também ter o cabelo curto penteado com gel e de usar um daqueles fatos cinzentos e a braçadeira com a cruz suástica, eu reconheci o empregado de limpeza mexicano que trabalhava há meses no meu laboratório de Los Angeles:
“Pedro!”
“Qual Pedro, qual carapuça”, retorquiu o Sr. Cebolo. “Ele chama-se mas é Diego Lacucaracha e trabalhava como guarda-livros em laboratórios científicos, antes de se juntar a nós.”
“O quê?!”
“Perante si, apresentou-se como empregado de limpeza. Por isso, sabíamos exactamente do que o senhor precisava.”
Pousei um olhar assombrado no Sr. Lacucaracha. Ele abriu os braços num gesto de impotência e disse:
“Sinto muito, Professor, mas eu era o único que conhecia este género de parafernália. Fiz, anos a fio, inventário para os mais famosos laboratórios de Nova Iorque. Juro, porém, que enquanto estive no seu, não espionei para nenhum dos seus rivais. O meu único objectivo era montar este seu laboratório. Espero que esteja satisfeito.”
Só consegui acenar com a cabeça.
10 comentários:
E será que o Pedro, perdão, o Dieguito, fazia um bom trabalho com a limpeza? Acho que valeria a pena explorar essa faceta! ;)
Ai, não me peças para alargar mais a minha narrativa! Estão todos ansiosos por ver enfim o que sairá do carvãozinho e eu ainda tenho uns preliminares...
Existe uma certa ironia na escolha dos nomes, se não estou enganado.
Aguardemos pelas próximas cenas. Gostei do espionei.
recomendo esta este link:
http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?e_id=&c_id=1&dif=radio&p_id=2361
Carregue no play.
uma versão, presumo eu, mais corrido, que merece umas páginas em papel com as historias laterais das personagens.
Viu o meu link?
passei para dizer boa noite.
:)
Caro Daniel,
Estava eu ontem muito descansado sentado no sofá a saborear uma bela duma cerveja fresquinha e a ouvir a minha rubrica preferida na Antena1 quando qual não é o meu espanto, ouço o Pedro Rolo Duarte a sugerir três blogues para se acompanhar durante as férias.
Adivinhem lá qual era um deles.
Muitos Parabéns, Kássia Kiss.
Os textos são do mais divertido que já li, e os nomes das personagens estão muito bem pensados.
Se tivesse de resumir a ideia deste blogue em duas palavras elas seriam sem duvída: Original e Divertido.
Obrigada a todos, mas tenho que destacar o Voltaire, pela preciosa informação e pelos seus elogios. Tentei ir à sua página, mas não consegui, pois o seu perfil não está disponível. Não me pode dar o seu link?
OK. Da próxima vez não me vou conter nos elogios...
Fui injusta consigo, Daniel, você é que foi o primeiro a dar a notícia, com link e tudo. Mas, depois de mais de 16 horas sem estar ligada à net, quando abri esta janela e deparei com comentários dos quais não entendia patavina, fiquei tão assarapantada, que não sabia por onde começar.
Aqui fica feito o reparo!
Um grande kiss ;)
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