Janela Indiscreta

Blogue recomendado por Pedro Rolo Duarte no seu programa Janela Indiscreta, da Antena 1, a 28-07-2010.

30 de agosto de 2010

14º Episódio

Estava tão atarantado, que perguntei:
“Você é mesmo a Dra. Luninski?”
“Nem duvide!” lançou a voz de vodka, antecipando-se à visada. Olhou-a com um ar de profunda desaprovação e acrescentou: “Nunca a teríamos raptado, se assim não fosse.”
“Pois agora, solta-a, anda lá!” solicitou o Cebolo. “Afinal, ela tem que se familiarizar o mais depressa possível com o nosso projecto. O melhor, é deixá-la a sós aqui com o Professor.” Piscou-me o olho malandro.
“Está bem, pronto”, rugiu a Olga. Soltou as mãos da Dra. Luninski e disse-lhe: “O seu aposento é aqui mesmo ao lado, a primeira porta à direita. Está tudo preparado.”
Aqui estava a explicação para os ruídos de móveis dos últimos dias.
A russa lançou ainda um olhar crítico à doutora, dizendo:
“Também lá encontrará roupa mais discreta.”
Em seguida, olhou-me amuada e deixou o laboratório fungando. A bola chinesa apressou-se a segui-la e o último a sair foi o Sr. Cebolo, que fechou a porta, não sem antes me lançar mais um sorriso matreiro.
Enquanto a Dra. Luninski massajava os pulsos maltratados, reparei novamente naquelas unhas incríveis e não consegui evitar um comentário atrevido:
“Se essas mãos estão realmente em condições de lidar com instrumentos sensíveis de laboratório, passo a acreditar em clones tirados de máquinas de moedas, com instruções de uso!”
Ela olhou-me estupefacta. Depois, mirou as próprias unhas. E de repente desatou às gargalhadas. O que ainda me enfastiou mais, detesto risadas histéricas.
Assim que conseguiu falar, ela disse:
“Você é o máximo, Professor, ainda melhor do que o seu colega Saturnino.” Abanou a cabeça. “Estes génios da ciência... Sinceramente!” Levantou-se e esticou-me as mãos perante os olhos, com as palavras: “É claro que são postiças.”
“Postiças?”
“Quem é que se pode dar ao luxo de ter unhas destas?”
Dito isto, começou a tirá-las.
Senti-me um pouco pateta, mas a Amanda nunca usara enfeites daqueles. Como se me tivesse lido os pensamentos, a Dra. Luninski acrescentou irónica:
“Aposto que a sua ex-mulher nunca se pinta, usa roupas discretas e nunca lê revistas do jet-set.”
“Acontece que é esse o meu tipo de mulher”, retorqui presunçoso.
Talvez presunçoso demais. O facto é que me tinha lembrado de como me apaixonara pela Amanda à primeira vista. Estava quase formado e andava à procura de um fóssil pré-histórico, um insecto, coisa simples, a fim de o clonar para o meu trabalho de fim de curso. Recomendaram-me um grupo de arqueólogos que trabalhava em pleno deserto norte-africano. Para lá me dirigi e deparei com aquela estudante, que, enfiada numa cova, limpava um caco com um pincel. Os seus cabelos louros, amarrados num rabo-de-cavalo, estavam cobertos de areia e pó, assim como os seus braços, bronzeados naquele tom castanho-claro das louras. Esquecido de mim mesmo, observei-a longos minutos. Até que ela levantou a cabeça e lançou maldisposta:
“Estás a olhar para quê? Nunca viste?”
Foi o encanto total! Que moça tão espontânea, directa e sincera! Casámos três anos mais tarde, na praia brasileira de Recife. Depois, tivemos dois filhos...
Não fazia ideia há quanto tempo ali estava, mergulhado nas minhas lembranças, de cabeça baixa, até que a voz da Dra. Luninski me trouxe de volta à realidade:
“Estou a ver que ainda não a esqueceu.”
Contava com um olhar irónico, quando a encarei, mas ela mirava-me com uma certa compreensão. Depois, puxou uma cadeira, sentou-se em frente a mim, cruzou as longas pernas, pelo que um dos tacões ficou a apontar na minha direcção como um punhal, e acrescentou:
“Ela deve estar bem preocupada consigo.”
“Ora”, resmunguei, “o novo namorado há-de consolá-la.”
“Será? Talvez ela só agora note a falta que o senhor lhe faz. E, assim que seja libertado deste bunker, ela ficará tão feliz, que voltará para si.”

25 de agosto de 2010

13º Episódio

Depois de amarrar as mãos da criatura, a Olga endireitou-se e anunciou:
“Senhor Professor! Apresento-lhe a Dra. Chanel Luninski!”
Arrancou-lhe a serapilheira da cabeça e eu vi a cascata de caracóis escuros, que enquadravam um rosto muito maquilhado. Mas só me apercebi ao de leve do batom vermelho vivo e das pestanas exageradamente longas, pois o meu cérebro ocupava-se com o nome dela. Onde é que eu já o tinha ouvido?
A boazona guinchou:
“Mas que vem a ser isto? Onde estou?”
“Acalme-se, minha jóia”, retorquiu o Sr. Cebolo, muito paternal. “Não tenha medo, está entre amigos!”
“Entre amigos? Vocês são mas é doidos! Trouxeram-me para um hospital psiquiátrico, ou quê?”
O português continuou bonacheirão e apontou para mim:
“Veja ali, por exemplo: é o Professor Solani, um dos cientistas mais famosos do mundo.”
Os olhos castanhos pousaram em mim. Porém, em vez de cumprimentar a fulana, ou, pelo menos, dizer alguma coisa que a acalmasse, quedei-me mudo, ocupado com um pensamento deveras estranho: eu devia estar com um aspecto horrível! Na sequência da minha depressão, despoletada pelo desespero dos últimos dias, dormia muito mal e não me barbeava, nem me penteava. O estranho em tudo aquilo era que o meu aspecto é, normalmente, a última coisa que me preocupa.
“É mesmo!” declarou a criatura abismada. “É o Professor que desapareceu! O mundo inteiro anda há duas semanas à sua procura.”
Sim, pensei, imagino como se sentirão os meus filhos.
“Mas”, virou-se para a Olga, “porque me trazem para junto dele?”
“Para que você o ajude no seu projecto.”
“No seu projecto?” Olhou em volta e soltou, como uma criança estupefacta: “Um laboratório!”
Isto libertou-me da minha paralisia. Convencido que uma tipa daquelas nunca estaria em condições de me prestar assistência, as primeiras palavras que lhe dirigi foram tudo menos simpáticas:
“Mas que perspicácia! De onde conhece laboratórios? De histórias aos quadradinhos?”
“Com quem pensa que está a falar?” berrou ela. “Não encontraria melhor assistente do que eu, nem que percorresse o país de lés a lés!”
“Não me diga!”
Ela fixou-me furiosa e acabou por guinchar:
“Jamais trabalharei com este machista arrogante!”
Machista, eu? Era a primeira vez que ouvia tal coisa e descontrolei-me:
“E eu jamais permitirei uma tipa destas no meu laboratório!”
“Tipa? Veja lá como fala com uma engenheira química altamente especializada na técnica de clonagem!”
“É mesmo? Então diga-me: onde trabalha?”
“Até há uma semana atrás, era eu o braço direito do Professor Saturnino!”
Ergui as sobrancelhas de espanto. O Professor Saturnino era um dos meus colegas de mais prestígio. E a criatura não parou de me surpreender:
“Não sei porque é que está tão boquiaberto. Afinal, recebi uma proposta de trabalho do seu próprio laboratório!”
“Como?”
“O Dr. Fabrício Megalith entrou em contacto comigo. Ele não lhe disse nada?”
Lembrei-me, enfim, onde tinha ouvido aquele nome. Tínhamos realmente procurado alguém, depois de um dos nossos colaboradores se ter mudado para a costa leste. Fabrício dissera-me que estava prestes a contratar uma das melhores químicas do país: a Dra. Chanel Luninski! Mas... tratar-se-ia realmente daquela boazona? Será que o Fabrício se tinha deixado encantar pelas curvas dela? Não combinaria nada com a sua maneira de ser, no que se referia ao trabalho, Fabrício não se permitia um desvio.

22 de agosto de 2010

12º Episódio

Quando, no sábado, me trouxeram o jantar, eu não tinha fome. Havia quase chegado ao ponto de desejar a minha execução. E, já que não tinha mais nada a perder, surgiu-me uma ideia maluca: da próxima vez que o Sr. Kornflock entrasse no laboratório, eu arrancaria o seu amado carvãozinho do vácuo e lançar-lho-ia às ventas!
Estava há horas sentado à mesa do meu jantar frio, completamente apático, quando ouvi passos. Virei-me para o carvãozinho e pensei: chegou a tua hora, desgraçado!
Mas não tive ocasião de o arrancar do invólucro. Quando atiraram com a porta, paralisei perante o espectáculo que se desenrolou diante dos meus olhos.
Os meus três raptores irromperam por ali dentro esbaforidos, fazendo o maior esforço para arrastar consigo uma mulher, cuja cabeça estava coberta por uma serapilheira... Que certamente cheirava a salsichas tipo Frankfurt!
E que mulher! O que primeiro me saltou à vista foram as suas pernas altas e elegantes, uns calções prateados justos e curtíssimos e um tipo de botas pretas que lhe chegavam acima dos joelhos, de tacões muito altos e cujos canos eram maleáveis como meias. Uns collants pretos, enfeitados com estrelinhas prateadas, torneavam-lhe as coxas bem-feitas.
Desviei os olhos para o tronco, modelado por um top preto, cujo decote mal lhe escondia os seios. Os braços bronzeados estavam enfeitados com pulseiras e braceletes coloridos e as unhas, pintadas de um vermelho vivo, tinham pelo menos três centímetros de comprimento.
Com mil milhões de tubos de ensaio! Mas porque me traziam eles aquela figura de vídeo de música rap, daquelas que só lá estão a mostrar as mamas e a abanar o traseiro? De repente, surgiu-me uma explicação: será que o comandante achava que tal criatura me conseguiria levantar a... o moral? Muitos homens pensam que o sexo pode ser a solução para todos os problemas.
Bem, uma boazona daquelas bem me apanharia na cama. E o sexo faz bem, sem sombra de dúvidas, ao corpo e ao espírito. Mas não se tratava do meu tipo de mulher. Depois de o termos feito duas, talvez três vezes, ficaria cheio dela... e ainda mais deprimido do que no início.
Os raptores viam-se aflitos para arrastar aquela extravagância para dentro do laboratório. Ela resistia por todos os meios, dando guinchos histéricos. Como é usual no tipo de fêmea, cuja actividade principal é arranjar-se para festas, ou limitar-se a ser bibelô de homens de negócios ou gangsters (tornei a perguntar-me se fazia parte de um filme). Felizmente, a serapilheira abafava-lhe os gritos. Os três tentavam sentá-la numa cadeira, quando ela se apoderou das orelhas do chinês e as puxou bem puxadas. O homem deu um berro e, ao libertar-se, tropeçou para trás, quase caindo. E eu notei-lhe o arranhão na face esquerda, o resultado do contacto das unhas de verniz vermelho com a sua bochecha.
O Sr. Mao Tsé Tinho perdeu as estribeiras. Rugindo como um puma, sacou da faca que trazia no bolso interior do seu paletó cinzento e precipitou-se por sobre a boazona. Apesar de eu ter reagido prontamente, estava longe demais e nunca chegaria a tempo de evitar a catástrofe. O Sr. Cebolo, felizmente, agarrou no chinês, no preciso momento em que este se preparava para espetar a faca na moça.
“Mas o que é isso, homem?” dizia o português, enquanto o empurrava para um outro canto do laboratório. “Tem calma! Torna lá a guardar o brinquedinho, anda!”
A voz de vodka, que conseguira finalmente sentar a raptada na cadeira, amarrava-lhe as mãos por trás das costas e lançou para o chinês:
“Endoideceste?! Quase que estragavas tudo, depois do trabalhão que tivemos!”
Vendo que a bola chinesa já se acalmara, o Sr. Cebolo deixou-o e aproximou-se de mim, limpando o suor da testa com um lenço. Sussurrou-me ao ouvido:
“Irra! Saiu-nos bem mauzinho, este Mao Tsé Tinho...” Acrescentou, com um sorriso: “E, no entanto, é bem pacóvio! Quem não gostava de ser arranhado por aquele pedaço de mulher, hã, Professor?”
Riu-se das próprias palavras, enquanto me espetava o cotovelo por entre as costelas, de olhar matreiro. Eu perguntei:
“Mas quem é ela? E que faz aqui?”
O Sr. Cebolo apontou-me olhos abismados:
“Ora, quem haveríamos nós de trazer para aqui? A sua assistente, claro!”
“O quê?!”
Só podia ser uma piada!

20 de agosto de 2010

Intermezzo # 5

Quem diria que o Astérix também vai ao McDonalds!


A julgar pela boa disposição do Obélix, devem lá servir hamburgers de javali.

A campanha publicitária pode ser polémica, os franceses, pelos vistos, estão em pé de guerra, pois insistem em considerar uma personagem de banda desenhada um herói nacional.

Eu acho que, pelo Ideiafix, vale a pena! A minha Lucy, que é fã, está toda derretida!

Podem ler a notícia aqui.

Se bem que eu entrei em contacto com ela (e com a imagem) no Blogue da Revista Os Meus Livros.

Até ao próximo episódio do "Cloning", no Domingo (um dos mais picantes da saga), um big kiss da vossa

Kássia

18 de agosto de 2010

11º Episódio

Pois sim! A sra. Matrix Relot era muito mais burra do que eu imaginara. Acho que era mesmo a pessoa mais obtusa que eu conhecera em toda a minha vida. Deu-me cabo da paciência durante três dias em vão, até ia destruindo o carvãozinho que lhe era tão caro. À beira do desespero, perguntei-me se aquela gente doida me levaria ao ponto de eu desejar a minha própria execução. De qualquer maneira, constituía para mim um enigma como é que a Sra. Relot tinha chegado a técnica de farmácia… e aprendido a falar alemão!
Apesar de evitar ao máximo o contacto com o Sr. Kornflock, mandei chamá-lo. Assim que entrou no laboratório, ele quis saber:
“Então, como vai o trabalho?”
“Não vai.”
“Não vai?!”
“Lamento, mas a Sra. Relot não se adequa a este tipo de projecto.”
Notava-se que o comandante só com muito esforço conseguia controlar a sua ira.
“Ordenei-lhe que a iniciasse no procedimento. Porque não o fez?”
“Mas quem consegue ensinar...” Resolvi mudar de estratégia: “Ouça Sr. Kornflock, se o sucesso deste projecto lhe significa realmente alguma coisa, terá que me arranjar ajuda especializada.”
O comandante fixou-me durante longos momentos. Era-me impossível adivinhar-lhe as intenções, mas eu estava cansado demais para sentir medo.
Quando finalmente o homem falou, expeliu palavras completamente inesperadas:
“Devia cortar o cabelo, Professor. Não há nada mais ridículo do que um homem de melenas compridas!”
Deu meia-volta e deixou-me sozinho.
Assim passei o resto do dia. Ninguém me vinha dizer se devia continuar com o projecto, se iria receber ajuda, ou... se aterraria na câmara de gás, depois no crematório, para que “de mim não sobrasse nem um...” enfim.
Começou a minha pior temporada naquele bunker. Nem sequer podia procurar consolo no meu trabalho, pois, sem ajuda, não estava em condições de lhe dar continuidade. Anoiteceu (eu possuía um relógio e um calendário) e deitei-me, mas não consegui adormecer. Tremi toda a noite, à espera de ouvir as botas dos meus carrascos.
Eles não vieram. Mas, a partir daquele dia, as refeições não me eram trazidas por um dos meus raptores, como de costume. Tirando a bola chinesa, que mal abria a boca, eu costumava conversar com a Olga e o José Cebolo. A um deles, eu ter-me-ia atrevido a perguntar o que se passava. Mas assistiam-me agora pessoas sempre diferentes, que não me dirigiam palavra. Além disso, apercebia-me de ruídos estranhos, vindos de um dos quartos contíguos, como se andasse alguém a arrastar móveis! Não fazia ideia do que esses quartos continham e para que eram usados.
Assim se passaram três longos dias, sem que ninguém falasse comigo. Até ao segundo fim-de-semana no bunker.

15 de agosto de 2010

10º Episódio

Surgiu-me uma mulher pequena, magra e pálida. Era-me impossível calcular-lhe a idade, qualquer coisa entre os trinta e os quarenta. Trazia os cabelos escuros bem apanhados e usava óculos quadrados, de armação grossa, castanha. Os seus olhos eram impenetráveis. Possuía, no fundo, um ar muito profissional, o de uma assistente de laboratório perfeita: esperta, competente e sem grandes encantos femininos. Talvez lhe pudesse realmente ensinar muita coisa.
“Presumo que seja a Sra. Matrix Relot!”
“Exactamente.”
Estremeci. A senhora não falava, piava:
“Mas deixe-me chamar-lhe a atenção para o facto de que estou com falta de prática. Não exerço a minha actividade profissional desde que me juntei a esta comunidade, há cinco anos. Como todos os outros, investi o meu tempo e todo o meu dinheiro na construção deste bunker e na montagem do seu laboratório.”
Fiquei curioso. Afinal, que motivos teria aquela mulher para se juntar a nazis? Aclarei baixo a garganta e perguntei:
“Porquê?”
“Porquê o quê?”
Os olhos da Sra. Relot estavam agora muito abertos, por detrás dos óculos.
“Porque o fez? Por acaso gosta da vida que aqui leva, isolada do mundo?”
A Sra. Relot fixou-me em silêncio durante vários segundos (já devia ter aprendido com os alemães) e eu tive a impressão que o seu olhar perdia um pouco da sua opacidade, para deixar transparecer indignação e fúria. Meu Deus, pensei, que fiz eu? Será que ela se vai queixar ao comandante?
“Não gosto de estrangeiros”, disse ela de repente.
“Como?”
“A França tornou-se num país de imigrantes, que nos tiram o trabalho e destroem os nossos costumes e tradições. Participei durante anos em comícios e demonstrações da extrema-direita, mas de nada adiantou. No entanto, sob as ordens do nosso Führer dominaremos o mundo!”
“Sra. Relot! Permita-me lembrar-lhe a coragem de certos franceses do século XX, que arriscaram as próprias vidas, e muitos perderam-na, a fim de expulsar os nazis da sua terra! Nunca ouviu falar da Résistence?”
Ela olhava-me como se eu tivesse falado chinês. Mas eu já não me segurava:
“Que significa isso de não gostar de estrangeiros? Todos nós o somos, em determinadas circunstâncias. Você própria, minha senhora, é uma estrangeira aqui no meu país. E o que são os seus compinchas nazis? Nazis dos quatro cantos do mundo? Um bando de estrangeiros! Quando dominarem o planeta, que costumes e tradições adoptarão? Franceses? Americanos? Alemães?”
Dei-me conta que a minha voz tinha aumentado de tom, as últimas palavras haviam sido quase gritadas. Mais alguém me teria ouvido? Receoso, pus-me à escuta de passos... mas nada aconteceu. Só a Sra. Relot me continuava a fixar como se eu fosse uma criatura exótica. Perguntei-lhe:
“Entendeu-me, minha senhora?”
“Claro, não sou surda.”
“E então?”
“E então, o quê?”
“Não tem nada para me dizer?”
“Absolutamente nada.” Acrescentou presunçosa: “Eu não me deixo levar em cantigas. Todos nós idolatramos o Führer e, sob o seu comando, dominaremos o mundo. Mas só se o senhor, meu caro Professor, fizer o seu trabalho e acabar com os seus discursos demagógicos!” Olhou-me desconfiada: “O senhor é comunista?”
Mudei de ideias: a Sra. Relot parecia-me ser tudo, menos inteligente. Nada mais me restava do que meter mãos à obra. Afinal, ainda havia muito que ensinar à minha adorável assistente.

13 de agosto de 2010

Intermezzo # 4

BEBÉS




Desculpem este desabafo, mas tem que ser! (A saga "Cloning" continua como habitualmente no próximo Domingo).

Escolhi fotografias de extrema doçura por duas razões:
Em primeiro lugar, damos conta do quanto estes bebés têm em comum com os seus parceiros humanos. São seres giros, mas completamente indefesos, precisam de carinho e segurança. Assim, o contraste é maior, quando pensamos que muitos destes cachorrinhos são maltratados e/ou abandonados. Há quem os deite ao lixo, os tenha a viver acorrentados, ou fechados numa caixa, todo o dia sozinhos… Nem é bom pensar!
Em segundo lugar, a fim de chamar a atenção que, por mais amorosos que estes bebés sejam, não são bonequinhos, mas sim seres vivos, que crescem, com todas as suas necessidades e caprichos.



Vem isto a propósito do abandono dos animais de que se dá conta, navegando pela blogosfera. Porque muita gente, ao adquirir um cachorrinho, pensa que está a levar um brinquedo para casa, para entreter as crianças, ou para o ensinar a fazer piruetas. E, quando constata que é preciso tempo e uma infinita paciência para ensiná-lo e dominá-lo, deita-o fora, como se de uma raquete de ténis se tratasse, depois de se constatar que aquele tipo de desporto não se enquadra na nossa vida!

Minha gente, vamos esclarecer uma coisa de uma vez por todas: CÃES COMO O REX (POLÍCIA) OU A LASSIE NÃO EXISTEM!!! Cães que surgem em filmes ou séries de televisão não passam de actores que, à semelhança dos seus colegas humanos, se limitam a representar um papel, sob indicações e ordens bem claras.

Um cão é psicologicamente quase tão complexo como um humano. Adoptando-o, tem que se investir muito tempo e muita paciência na sua educação. Deve ser considerado um membro da família e, antes de tudo, precisa de aprender regras elementares de convivência connosco. Frustrado ou traumatizado, pode tornar-se num animal perigoso (à semelhança das pessoas). Por outro lado, poucas coisas há na vida melhores do que estabelecer uma relação de 100% de confiança com um cão. Trata-se de amor/amizade puros e simples, sem interesses nem segundas intenções (grande parte dos humanos nunca experimentou um sentimento deste tipo).



Por isso, o meu apelo aos pais: se não estão dispostos, ou não têm tempo, para tratar de um cão, não o dêem de presente aos filhos, confiando que os petizes se encarregarão dele. Salvo excepções, uma criança só estará apta a educar um cão e a tomar uma responsabilidade dessas a partir dos treze ou catorze anos.

Se as suas crianças suplicam por um cão, proponho o seguinte: arranje um para as férias, de alguém que, se não tiver onde o deixar, o abandona. E observe! Se os seus filhos, passados dois dias, não acham mais piada ao animal, livre-se de adoptar um! Se, pelo contrário, passam as férias a ocupar-se dele e ficam tristes quando ele tiver que regressar a casa, assim sim: dê-lhes o cachorrinho que os miúdos merecem!

Mas não tão pequenino como o da próxima fotografia, que não terá duas semanas, pois ainda não abriu os olhos. Os cachorrinhos devem passar pelo menos as suas primeiras oito semanas na companhia da mãe.



As fotografias foram tiradas do site do PJRTClub of Germany, cujo link também se encontra na barra lateral. Se quiser ir directo às dos cachorrinhos, clique aqui.

Na barra lateral encontra também dois blogues que se dedicam à protecção dos animais em Portugal: AGIR pelos animais e Blog dos Bichos.

11 de agosto de 2010

9º Episódio

O Sr. Kornflock surgiu à hora combinada, acompanhado pelo mexicano. O alemão observou-me em silêncio através dos seus óculos redondos (porque é que os alemães gostam tanto de observar assim as pessoas?) e perguntou depois:
“Tem boas notícias para me dar, Professor?”
Eu pigarreei e permiti-me mais uma mentirinha:
“Infelizmente, ainda não lhe sei dizer se o carvãozinho terá alguma utilidade...”
“Já se passou uma semana, meu caro. Pensei que você fosse bom.”
“E sou, caro comandante. Mas estive doente. Além disso...” Não tinha escolha, fui forçado a revelar, embora o fizesse em voz baixa: “Além disso, preciso de ajuda.”
O Sr. Kornflock fixou-me durante alguns instantes (para variar). Em seguida, repetiu:
“Ajuda?!”
“Sim, preciso de alguém a meu lado que seja versado em procedimentos deste tipo.”
“E só agora você me diz uma coisa dessas?!”
“Desculpe, mas pensei que conseguiria fazer tudo sozinho. Mas, pelos vistos, foi demais para mim... Até fiquei doen...”
“Já sabemos, não se repita!” Coçou o queixo pensativo. “Demoraria o seu tempo a preparar mais um rapto. Talvez estivesse algum dos nossos companheiros em condições de o ajudar.”
Aquilo não me agradava. Com um deles a espreitar-me por sobre o ombro, sentir-me-ia espionado. Além de que, em caso de necessidade, não poderia adiar o projecto a meu bel-prazer. Por outro lado, evitaria um novo rapto.
O Sr. Kornflock dirigiu-se ao mexicano:
“Que tal você, Lacucaracha?”
“Eu?!”
“Sim, você não conhece a parafernália?”
“Ora, com o devido respeito comandante, eu sou um homem de papéis, a minha especialidade é a burocracia. Não percebo patavina dessa história de células e cromossomas.”
Resolvi intervir:
“É isso mesmo. Preciso de alguém que entenda de Química e Biologia.”
“Química e Biologia”, murmurou Kornflock pensativo. Depois, declarou entusiasmado: “Temos uma técnica de farmácia entre nós!”
“Uma técnica... Não, isso não chega. Essa senhora não tem evidentemente experiência em processos de clonagem e...”
“A discussão acabou”, interrompeu-me o Sr. Kornflock. “A nossa companheira francesa, a Sra. Matrix Relot, apresentar-se-á em breve no seu laboratório.”
“Mas uma técnica de farmácia nunca lidou com...”
“Então, terá você que a treinar no procedimento, Professor! E trate de acelerar o processo, exijo resultados!”
Rodou sobre os tacões e desapareceu com o mexicano.

8 de agosto de 2010

8º Episódio

Não passei nenhum fim-de-semana na minha casa do lago com o Maddox e a Dahlia. Nem fazia ideia quando tornaria a ver os meus filhos (se é que os tornaria a ver). Havia uma semana que me encontrava naquele maldito bunker. Não se tratava de um pesadelo, mas de pura realidade.
Mergulhei no trabalho, para não enlouquecer. A Sra. Tortinova, ou Olga, como ela insistia em que eu a tratasse, tivera razão: qualquer cientista desejaria tal oportunidade de testar, sem limites, os seus conhecimentos e aptidões. É um desejo que se recalca, na vida normal. E não só por, neste caso, ser proibido clonar seres humanos. Também a minha consciência sempre me dissera que não me metesse numa aventura dessas. Agora, ou o fazia, ou, para citar o Sr. Kornflock, “de mim não restaria nem um...” Bem, não me quero tornar repetitivo.
Por outro lado, caso fosse bem sucedido, proporcionaria uma segunda vida a um psicopata que, há quase 200 anos, originara uma guerra mundial. Como se isso não bastasse, o energúmeno ordenara, por decreto, a exterminação pura e simples de grupos étnico-religiosos. E era com esse monstro que os doidos daqueles nazis se propunham dominar o mundo!
Uma ideia que nem sequer era original. Será que me tinham escolhido para um filme que contava essa história pela milionésima vez, sem me informarem, a fim de que a minha actuação fosse autêntica? Não seria o primeiro a cair numa armadilha dessas, os estúdios cinematográficos inventam estratagemas cada vez mais absurdos. E o certo é que, no fim, esses actores involuntários acabam por autorizar a publicação das filmagens, apesar de a maioria ter feito figura de parva, tão grande é a sede de sucesso e de fama. Dei comigo a perguntar-me quando surgiria o super-herói, ou o agente secreto, que me libertaria, evitando a catástrofe mundial.
Por falar em agentes secretos: ao ver os filmes antigos do meu colega de liceu, constatei que o 007 surgiu há 150 anos! Era no fundo de calcular, pois Hollywood prepara-se para comemorar a estreia do 100° filme. O que eu aliás achei deveras interessante, foi que o James Bond dos primeiros sessenta anos era heterossexual! Em vez de Bond-boys, havia Bond-girls! (Talvez não fosse má ideia ter vivido em fins do século XX)...
Qual super-herói, qual agente secreto, qual carapuça? Eu não passava de um vilão, que contribuiria para a destruição do planeta. Convenhamos que eu tinha o poder de acabar com aquele projecto a qualquer momento. O que aliás não me traria qualquer vantagem, pois, como o Sr. Kornflock tinha dito, “de mim não restaria nem...” Lá vou eu outra vez!
Uma coisa eu podia fazer: adiar a concretização da experiência. Comecei por informar o comandante e os seus compinchas que precisava de um certo tempo para me habituar a trabalhar num laboratório situado a dezenas de metros de profundidade, apetrechado com aparelhos que, apesar de serem de boa qualidade, me eram estranhos. Afinal, eu era um génio e toda a gente sabe como os génios são sensíveis. Uns dias mais tarde, comuniquei que o carvãozinho não era nada fácil de examinar.
Na verdade, eu já sabia, naquela altura, tudo sobre ele. Simples, não tinha sido, a maior parte consistia realmente em matéria inútil, de que eu tive que me livrar com o maior dos cuidados. No fim, restou apenas um pedacinho minúsculo... que possuía informações genéticas e que, muito provavelmente, pertencera a Adolfo Hitler. Como disse, não revelei esta informação, apesar de notar que aqueles doidos começavam a ficar impacientes. E, quanto mais impacientes, mais perigosos, em breve teria que abrir o jogo.
Mas isso ainda não era tudo. Uma nova constatação começou a torturar-me: sozinho, não conseguiria levar o projecto avante!
Não que me envergonhasse de precisar de ajuda. Afinal, a minha equipa em Los Angeles consistia em mais três cientistas. O problema era que, na minha situação, aquilo significava que pelo menos mais uma pessoa teria que se raptada. À minha responsabilidade, mais alguém seria arrancado da sua vida normal, para ser enfiado naquele bunker, a fim de sujar as suas mãos num projecto abominável.
Esta constatação incomodou-me tanto, que fiquei mesmo deprimido e já não trabalhava há dois dias. Porém, o Sr. Kornflock tinha mandado anunciar que me visitaria naquela tarde, a fim de ficar a saber se e como o projecto seria finalmente retomado.
Deveria mentir-lhe, dizendo que o carvãozinho era inútil? Ele não hesitaria em mandar-me para uma das câmaras de gás, cremando em seguida o meu cadáver, não sobrando “nem um...” exactamente! E, com isso, eu nem conseguiria salvar o mundo. Era eu ainda o único capaz de concretizar o projecto, mas, passados poucos anos, estou certo de que surgiriam outros cientistas com essa capacidade. Os nazis esperariam o tempo que fosse preciso, persistência não lhes faltava. Conclusão: com uma mentira dessas, a única coisa que eu conseguiria, seria uma morte de consciência limpa.
O que, admito, não é de subestimar. Mas eu não sou nenhum santo. Quero continuar a viver, tornar a ver os meus filhos, a esperança é a última a morrer, etc., etc. O que faria qualquer outro no meu lugar?

4 de agosto de 2010

7º Episódio

O Sr. Cebolo piscou-me o olho matreiro e eu não resisti a perguntar:
“Quer isso dizer que o senhor e a Sra. Tortinova...”
“Por mais agradável que a vida seja, aqui no meio desta gente simpática, nada me impede de fazer os possíveis por a tornar mais agradável ainda, não é verdade?”
Desatou às gargalhadas, tornando a pôr a russa maldisposta, embora ela não soubesse sobre o que estávamos a falar. Aproximou-se novamente e lançou-lhe seca:
“Já comeste o suficiente!” Depois dirigiu-se-me muito simpática: “E o Professor precisa de descansar.”
“É verdade, minha senhora.”
Ela sorriu-se toda:
“Olga para si, Professor!”
Por um momento, receei os ciúmes do Sr. Cebolo. Por mais amigável que ele me parecesse, não deixava de ser um daqueles nazis fanáticos. Mas o homem levantou-se muito naturalmente e limitou-se a dizer:
“Desejo-lhe um sono reparador!”
“Obrigado.”
Assim que ele se afastou, a russa tornou a falar comigo:
“Se precisar de alguma coisa, chame-me.” Aproximou-se mais e acrescentou de olhar insinuante: “Estou disponível a qualquer hora.”
Sem saber o que lhe dizer, quedei-me perplexo. Felizmente, ela não esperou por uma resposta. Rodou sobre os tacões e retirou-se, na companhia dos outros.
Fiquei largos minutos paralisado sobre a minha cadeira. Mas que mundo maluco era aquele? Caso se tratasse de um sonho, era o mais idiota que eu jamais tivera. Acabaria, se eu fosse dormir e tornasse a acordar? De qualquer modo, resolvi tomar um bom banho primeiro.
Na casa de banho, esperava-me mais uma surpresa: óleo de duche com aroma de bergamota e vetiver, o meu preferido! Abri a torneira suspirando. Como sentia a falta dos meus filhos, Dahlia e Maddox! Não valia a pena pensar na Amanda, que já arranjara um novo namorado.
Debaixo do chuveiro quente, envolvido por aquele aroma agradável, comecei a sentir-me melhor. Não havia a menor dúvida de que se tratava de um sonho. Porque é que terroristas, ou seja lá quem fosse que me tivesse raptado, se haviam de dar ao trabalho de me arranjar o meu café e o meu óleo de duche preferidos? Sinceramente! Só saído da minha própria cabeça!
Assim que acordasse, iria logo telefonar aos meus filhos e...
De repente, descobri a razão de ser de tal sonho! Como normalmente me faltava o tempo para ser um bom pai, Deus queria apenas mostrar-me (sim, acredito em Deus) quão importantes os meus filhos me eram.
Decidi mudar radicalmente o meu comportamento! Dedicaria o próximo fim-de-semana aos pequenos. O Maddox gosta muito de pescar e a Dahlia de nadar. Levá-los-ia para a minha casa do lago, na Califórnia do sul. E, nas férias da Páscoa, iria com eles para o Brasil, adiando quaisquer projectos que tivesse em cima da mesa.
Assim animado, caí na cama. Era confortável e adormeci logo.

1 de agosto de 2010

6º Episódio

“Coma lá alguma coisa”, pediu a russa, que punha a mesa à minha frente. “Veja, até lhe arranjámos a sua marca de café preferida!”
Perante mim surgia um pequeno-almoço e pêras. Além de várias qualidades de pão e compotas, havia presunto, fiambre, queijo, muesli, ovos mexidos e, claro, salsichas tipo Frankfurt. Nunca conseguiria engolir tanta coisa e perguntei:
“Alguém deseja fazer-me companhia?”
Recusaram, com excepção do Sr. Cebolo, cujo sorriso lhe rasgava o rosto de orelha a orelha. Foi buscar uma cadeira e sentou-se em frente a mim, com as palavras:
“Nunca recuso uma oportunidade de forrar aqui o estômagozinho.”
A voz de vodka olhou-o desagradada, mas acabou por se juntar ao mexicano e ao chinês, que conversavam a um canto.
O Sr. Cebolo engolia torradas e salsichas a grande velocidade, regando tudo com chávenas de café com leite bem açucaradas. O jeito dele, no fundo, agradava-me, não me parecia tão rigoroso como os outros. E, debaixo do seu bigode farfalhudo, os seus lábios não hesitavam em sorrir.
“O senhor é português, não é?”
Os seus olhos escuros brilharam de satisfação e, depois de passar o guardanapo pela boca, desenhou-se-lhe no rosto o tal sorriso largo:
“O senhor ainda é mais inteligente do que eu pensava, Professor, a primeira pessoa que não me pergunta se sou espanhol, italiano, sul-americano ou europeu de leste... É que é preciso ter lata: europeu de leste!”
Abanou a cabeça e eu lembrei-me de um colega que, apesar de saber castelhano, queria aprender português. Gostava de passar férias em Portugal e notava que os locais se indignavam ou ofendiam, se ele tentava falar castelhano com eles. Mas como ele me disse que se safava com o inglês, aconselhei-o a mudar de ideias. A aprendizagem do português só se adequa a um maluco com um faible para línguas. Como eu!
Logo ali resolvi dar uma nova alegria ao Sr. Cebolo. Como os outros três pareciam muito embrenhados na sua conversa, reflecti sobre as palavras certas e sussurrei no seu idioma:
“Que boas torradinhas, não acha?”
O Sr. Cebolo ficou completamente encantado e retorquiu, igualmente em português:
“Acaba de ganhar um amigo, Professor. E eu nem lhe levo a mal que me tenha falado nesse sotaque abrasileirado, assim a jeito de telenov... Ai!“
A Sra. Tortinova dera-lhe uma pancada leve na cabeça, como se lhe tivesse sacudido o pó. E sibilou:
“Se alguém mais te ouve, seu parvo!”
“Credo, rapariga, não te agites”, replicou o Sr. Cebolo, tentando novamente acamar as repas. “Mesmo que o Mao e o Dieguito se tivessem apercebido, eles não me iam chibar ao comandante.”
“Não te fies nisso!” A russa fungou de desprezo e disse-me: “Nunca na minha vida conheci outra pessoa que tivesse tanta dificuldade em controlar os seus impulsos, como aqui o Zé Cebolo!”
Eu sentia-me responsável por aquele desaguisado e retorqui:
“A culpa foi minha, eu é que comecei com o disparate.”
Mas o português já fazia um gesto de indiferença com a mão:
“Não se incomode, Professor. Eu e a Olga somos bons amigos.” Sorriu malandro na direcção da russa e acrescentou: “Muito bons amigos!”
A voz de vodka afastou-se emproada e o Sr. Cebolo confidenciou-me:
“Tratarei de a acalmar. Isto, com pequenas, é saber dar-lhes a volta… E ela não parece, mas digo-lhe: é um verdadeiro vulcão!”